Henrique Meirelles X Barack Obama

No post de hoje, faço um comentário sobre a fala do candidato HENRIQUE MEIRELLES no programa eleitoral de ontem, dia 08/09/2018, que me trouxe à memória um discurso antigo em que o BARACK OBAMA falou sobre um tema parecido.

O candidato traz o seguinte tema: As pessoas estão brigando entre si em função de ideologias políticas, sendo que essas brigas e separações atingem amigos e familiares o que, além de triste, não é algo que resolverá qualquer problema. O que resolve o problema é quem ajuda.

Muito bem… mas como o Meirelles diz isso? Será que seu texto poderia ser melhorado se usasse algo do discurso do Barack Obama?


FALA DO HENRIQUE MEIRELLES 

Voz locutor:
  • Posso fazer uma pergunta? Qual a cor do desemprego? Azul ou Vermelha? E a pobreza, é de esquerda ou de direita? E a violência? Na hora de atirar, o bandido pergunta em quem a vítima votou na última eleição? 
Voz Meirelles:
  • Se os problemas não têm cor política, as soluções também não podem ter. É hora de trabalhar juntos para o país crescer. O que mais me preocupa é a divisão entre nós brasileiros. Acho triste ver amigos e famílias separados por ideologia. (...) Para mim o mundo não se divide entre quem gosta e quem não gosta do Lula, do Temer ou do FHC. Para mim, o mundo se divide entre quem ajuda quando o Brasil precisa e quem não ajuda. 


PROBLEMA:

A fala do candidato está muito "intelectual" e pouco "emocional". Estudos mostram que, quando as pessoas tomam uma decisão, decidem com base no que sentem. Usamos a Lógica e a Razão apenas para justificar a escolha emocional que já fizemos [veja referência 1]. Portanto, o discurso de um político deve ser capaz de criar e conduzir emoções nos ouvintes, na medida em que tece sua argumentação. Ele deve, para isso, usar imagens impactantes e ser provocativo. Se o ouvinte precisa pensar e raciocinar para compreender uma ideia, provavelmente o discurso perderá impacto emocional. Nesta fala do candidato Henrique Meirelles, gosto somente da frase “na hora de atirar, o bandido pergunta em quem a vítima votou na última eleição?” sendo que as outras frases merecem ser melhoradas. Há várias maneiras de se fazer isso, veja um exemplo:


SOLUÇÃO baseada no discurso do Barack Obama*

  • Em primeiro lugar, evoque um sentimento nobre através de uma série de exemplos empáticos, falando sempre em primeira pessoa - "eu", "nós ". Por exemplo: 

Não é só numa Copa do Mundo que nós, brasileiros, sentimos que estamos todos conectados, como um só povo. Se uma criança da periferia não sabe ler, isso me incomoda mesmo ele não sendo o meu filho. Se um bandido atira em alguém durante um assalto, isso também diminui a minha liberdade, mesmo que eu não conheça aquela pessoa. Se eu sei que um idoso não pode pagar pelos seus remédios, e teve que escolher entre o remédio ou o seu aluguel, isso também me deixa pobre, mesmo que ele não seja o meu avô. 

  • Em seguida, posicione-se como o líder que defenderá esse sentimento nobre Para isso, mostre que existe uma ameaça e que você vai não vai deixar que ela aconteça. 


Mas, enquanto você me escuta, existem aqueles [leia referência 2] que estão se preparando para nos dividir. Os que acham que “na política, vale tudo”. Muito bem, eu digo a eles, hoje, que não existe uma Brasil liberal e um Brasil conservador - existe o povo brasileiro! Não existe um Brasil de esquerda, um Brasil de direita, um Brasil negro, um Brasil branco, um Brasil de imigrantes, um Brasil de nativos. O que há é o Brasil! Intelectuais gostam de fatiar o nosso país entre esquerda e direita. Mas eu tenho uma novidade para eles também. Há muitas pessoas de esquerda que vão à igreja e que glorificam a Deus. Há muitos de direita que têm amigos gays. Nós somos um só povo, que amamos as cores do nosso país. Nós somos... brasileiros!



REFERÊNCIAS

[1] Vários exemplos de estudos deste tipo podem ser encontrados no livro “Previsivelmente Irracional”, por Dan Arieli, publicado no Brasil pela editora Campus (2008).

[2] Observe as palavras grifadas deste texto. Quando uso uma expressão como “existem aqueles que estão se preparando para nos dividir”, de quem exatamente eu estou falando? Ou quando digo “Intelectuais gostam de…”, de quais intelectuais especificamente, estou falando? Ou quando uso palavras como “eles”, quem exatamente são "eles"? Enfim... de quem estou falando no texto? Na verdade, de ninguém! Isso é um “truque de linguagem” chamado de Falta de Índice Referencial, ou de Omissão/Deleção, muito estudado na Hipnose Ericksoniana. O Barack Obama usa esse padrão no seu texto e consegue, com eficiência, criar um inimigo sem de fato dizer quem é o inimigo. Cada ouvinte da platéia entende da sua própria maneira.



DISCURSO BARACK OBAMA

Trecho traduzido e adaptado do discurso do Barack Obama na 2004 Democratic National Convention (www.americanrhetoric.com/speeches/convention2004/barackobama2004dnc.htm)


Além do nosso famoso individualismo, existe outro ingrediente na saga americana, uma crença de que todos somos conectados como um só povo. Se há uma criança ao sul de Chicago que não pode ler, isso importa para mim, mesmo não sendo o meu filho. Se há um idoso que não pode pagar pelos seus remédios, e tendo que escolher entre o remédio ou o aluguel, isso faz a minha vida pobre, mesmo que não seja o meu avô. Se uma família árabe americana está sendo perseguida sem o direito a um advogado, isso ameaça os meus direitos civis. 

Enquanto estamos falando, existem aqueles que estão se preparando para nos dividir. Os da política do vale tudo. Muito bem, eu digo a eles, hoje, que não existe uma América liberal e uma América conservadora - existem os Estados Unidos da América. Não existe uma América negra e uma América branca, uma América latina, uma América asiática - há os Estados Unidos da América. 

Os intelectuais gostam de fatiar o nosso país entre estados vermelhos e azuis. (...) Mas eu tenho uma novidade para eles também. Nós glorificamos a Deus nos estados de esquerda, e não gostamos que agentes federais fiquem passeando pelas nossas bibliotecas nos estados de direita. Nós ensinamos as crianças nos estados de esquerda e temos amigos gays nos estados de direita (...) Há os patriotas que se opuseram à guerra do Iraque e os patriotas que apoiaram a guerra no Iraque. Nós somos um só povo e, prometendo fidelidade às cores do nosso país, todos nós defendemos os Estados Unidos da América.






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* O TEXTO ACIMA, ASSIM COMO OUTROS TEXTOS DO BLOG, NÃO REPRESENTA A MINHA OPINIÃO OU JULGAMENTO EM RELAÇÃO AO TEMA OU AUTORES. ANALISO SOMENTE O FORMATO DO DISCURSO, NÃO SEU CONTEÚDO. 

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