General Mourão e a Tripla Herança

O candidato à vice-presidência da República General Mourão fez uma declaração que se tornou polêmica e que, posteriormente, obrigou o candidato a ter que dar explicações atrás de explicações durante seguidos encontros com jornalistas. A declaração foi a seguinte:


DECLARAÇÃO


“Nós carregamos dentro de cada um uma herança cultural tripla. Nós temos a herança cultural ibérica, que é a do privilégio e da sinecura: todo mundo quer se dar bem. Temos a herança cultural indígena, que é da indolência:é o índio fica deitado na rede e a mulher cavando lá, carregando filho. E temos a herança cultural africana, que é a da magia: “vai dar certo, vai dar tudo certo”... a malemolência, o samba, a embaixadinha. Nós temos que romper esse ciclo!” 

Ele foi questionado em relação a essa fala sendo acusado, dentre outras coisas, de ter feito um comentário racista.


O QUE ELE RESPONDEU


Esse é um exemplo de entrevista em que os jornalistas o questionaram. Não coloco a transcrição aqui por ser extensa demais mas, em resumo, o candidato defende o seu ponto de vista citando sociólogos que disseram o mesmo e, defendendo-se da acusação de racismo, diz revela ele próprio ter ascendência indígena/africana e que trabalha em uma corporação que se orgulha de ser multiétnica.


PROBLEMA

Muito embora esses argumentos possam parecer suficientes, o fato é que ele não consegue convencer os jornalistas, pelo que se pode ver na entrevista. Mas, mais do que isso, os jornalistas nem parecem estar dispostos a realmente entendê-lo. Por que será?

Lembre-se da última vez em que você discutiu uma ideia. Você fez o outro lado mudar de opinião ou foi o contrário, sua opinião foi mudada? Muito provavelmente, nenhuma das duas coisas aconteceu e cada lado continuou pensando como sempre pensou. As pessoas defendem seus pontos de vista como se defendessem a própria vida e o confronto direto raramente é eficiente. Então, se o confronto direto é ineficiente, haveria alguma outra forma de participar de um debate, que trouxesse melhores resultados?

SOLUÇÃO

Sim, há. Uma das propostas da PNL para a comunicação eficiente e persuasiva é seguir uma estratégia chamada Pace-and-Lead que consiste no seguinte: em primeiro lugar, escute o ponto de vista do outro lado e, ao escutá-lo, mostre que o entendeu e que aceita o que está sendo dito. É como se você dissesse “eu entendo o que você está dizendo e, de certo modo, você está certo...” Somente depois você mostra o seu próprio ponto de vista, ampliando o entendimento da situação. Por exemplo, poderia continuar com “... mas, se você considerar esses outros fatores, vai entender que…” O ato de escutar e aceitar a outra pessoa gera uma reciprocidade posterior e, só nesse momento de reciprocidade, você tece o seu argumento. Pensando nessa estratégia, o candidato General Mourão poderia ter respondido assim:


TEXTO FINAL*


“Deixe-me verificar se entendi corretamente o que o senhor perguntou. Na maneira como eu disse aquilo, ficou parecendo que fiz um comentário racista, correto? Pois bem, eu concordo com o senhor que essa interpretação é possível mas ainda bem que estou aqui para esclarecer de uma vez por todas qual a interpretação correta. O que eu realmente quis dizer é que o Brasil enfrenta dificuldades em função de três características que nós, brasileiros, apresentamos: gostamos de levar vantagem, de fugir do trabalho e de ter um jeitinho pra tudo. Na minha opinião, precisamos mudar essas nossas características, se quisermos crescer. Foi somente isso o eu quis dizer. Agora, por que o brasileiro é assim? Baseado no que eu li até hoje, essas nossas características são oriundas das influências ibérica, indígena e africana na nossa cultura. Mas eu até posso estar errado quanto à causa porque, na verdade, a explicação é irrelevante. O que importa mesmo é mudar essa cultura de levar vantagem, de fugir do trabalho e de dar jeitinho. Você não concorda comigo que o importante é mudar?”




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* O TEXTO ACIMA, ASSIM COMO OUTROS TEXTOS DO BLOG, NÃO REPRESENTA A MINHA OPINIÃO OU JULGAMENTO EM RELAÇÃO AO TEMA OU AUTORES. ANALISO SOMENTE O FORMATO DO DISCURSO, NÃO SEU CONTEÚDO. 

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